sábado, 5 de novembro de 2011

A ilusão da infância...


O Quarto de Jack
de Emma Donoghue
Porto Editora
ISBN: 9789720043436


Sinopse:
Original, poderoso e soberbo, Jack é inesquecível: a coragem e o imenso amor numa história perturbante contada pela voz da inocência.
Para Jack, de cinco anos, o quarto é o mundo todo. É onde ele e a Mamã comem, dormem, brincam e aprendem. Embora Jack não saiba, o sítio onde ele se sente completamente seguro e protegido, aquele quarto é também a prisão onde a mãe tem sido mantida contra a sua vontade. Contada na divertida e comovente voz de Jack, esta é uma história de um amor imenso que sobrevive a circunstâncias aterradoras, e da ligação umbilical que une mãe e filho.
O quarto é um lugar que nunca vai esquecer; o mundo é um sítio que nunca mais olhará da mesma maneira.
Finalista do Man Booker Prize 2010
Finalista do Orange Prize
New York Times 10 Best Books 2010
Washington Post Top 10 Books – 2010
New York Times 100 Notable Books 2010
Barnes & Noble Best Books – 2010
Hudson Booksellers Best Fiction – 2010


Críticas de imprensa:

“Poderoso e comovente, sem ser sentimental. Um romance espantoso.”
José Mário Silva, Expresso

“O quarto de Jack é uma raridade, uma completa e original obra de arte.”
Michael Cunningham

“Adorei O quarto de Jack. É de uma imaginação incrível e de um estilo de
linguagem deslumbrante. E, no meio de tudo isto, um miúdo totalmente credível e
encantador. Diferente de tudo o que li até hoje.”
Anita Shreve



Jack tem cinco anos. Uma idade em que as crianças vivem em função dos Porquês e da descoberta do Mundo em seu redor. Mas Jack não é como as outras crianças: ele já conhece todo o Mundo… Pois o Mundo inteiro está, para ele, contido no quarto onde ele e a Mamã passam os seus dias, um espaço mínimo em que coexistem uma cama, uma banheira, uma aparelho de televisão, um género de cozinha e um armário. Para Jack, que não conhece uma realidade para além daquelas paredes, este é o Mundo Real e tudo o que vê na televisão é o Mundo do Faz de Conta. O menino é feliz, sem saber, na sua ingenuidade, que é, na realidade, um prisioneiro como a sua Mãe. A Mãe de Jack foi raptada aos 19 anos, pelo Velho Nick, que aparece quando a criança dorme profundamente dentro do armário, para continuar a, forçosamente, partilhar a cama da sua Mãe. Depois de reviver todo o seu percurso, incluindo o parto de um bebé, antes de Jack, que morreu ao nascer, a Mãe apercebe-se que o melhor que pode fazer, enquanto progenitora, é tentar fugir com o filho desta realidade esmagadora e castradora em que vive. Começando, aos poucos, a explicar ao filho que o que ele vê na televisão é, na verdade, real, a Mãe arquitecta um plano que, com Jack como protagonista, poderá devolver-lhe a liberdade e levar o filho a conhecer esse Mundo vasto, que quatro paredes não conseguem conter.

Admito que a primeira leitura da sinopse abriu-me o "apetite" para a leitura deste livro.  Mas, com a leitura do enredo, apoderou-se de mim uma angústia, um sentimento de impotência e de aprisionamento que deduzi deverem-se à minha nova qualidade de mãe...  Para quem, como eu, tem uma criança de 1 aninho, ler a história de um menino de 5, aprisionado toda a sua vida sem sequer tomar conhecimento do mundo real, tem, praticamente, a mesma conotação de desespero que sentimos ao ler ou ouvir notícias de crianças abandonadas, raptadas, abusadas ou mortas...  Todas aquelas crianças (mesmo as ficcionadas) ganham os contornos dos nossos próprios filhos e acabamos por não nos conseguir separar da história.

É com pena que admito que este vai ficar na prateleira algum tempo...  à espera do meu amadurecimento maternal.

sábado, 10 de setembro de 2011

A Magia do Números
de Yoko Ogawa
Quetzal Editores
EAN 9789725649558





Sinopse

Uma empregada de limpeza começa a trabalhar em casa de um velho matemático, um homem com mais de sessenta anos, cuja carreira foi brutalmente interrompida por um acidente de automóvel, que reduziu a autonomia da sua memória a oitenta minutos.
A cada manhã, a jovem mulher deve apresentar-se como se se vissem pela primeira vez - o professor esquece-se que ela existe de um dia para o outro -, mas é com grande paciência, gentileza e muita atenção que ela consegue ganhar a sua confiança, apresentando-lhe também o filho de dez anos. Aí se inicia uma relação maravilhosa: o rapazinho e a sua mãe vão não só partilhar com o velho amnésico a sua paixão pelo beisebol, como vão também aprender com ele a magia dos números. Neste subtil romance sobre a herança e a filiação - e em que três gerações se encontram sob o signo de uma memória extraviada e fugidia - a narrativa desdobra-se com a graça e o rigor de um origami. Lapidar e profundo como um haiku, A Magia dos Números é uma pequena obra-prima…






Por vezes acontece algo assim…  Um livro, de que nunca ouvimos falar e de quem não conhecemos, sequer, o autor, salta-nos à vista e acaba por se revelar uma agradável surpresa.  Aconteceu-me, há mais de dois anos, com “AElegância do Ouriço”, de Muriel Barbery (um livro que, para grande tristeza minha, passou virtualmente despercebido aos clientes da Fnac de Cascais – salvo as raras excepções em que eu, a bem da felicidade literária das pessoas, o “impingi” a quem pude) e está a acontecer agora com o recente “A Magia dos Números” de Yoko Ogawa.

Um homem que dedicou toda a sua existência ao poder da matemática e dos números vê, em consequência de um acidente de viação, a sua consciência diminuir a um espaço temporal de 80 minutos.  Tudo o que passe desse período é por si esquecido.  Essa particularidade tornam o homem uma pessoa de difícil convivência que, afastado pela família para a reclusão envergonhada de uma existência num anexo do lar familiar, mantém a dignidade pessoal com a ajuda de empregadas domésticas que se sucedem a uma rapidez vertiginosa.  Nenhuma é capaz de aguentar por muito tempo a vida na casa do “Professor”.  É assim que lhe chama a nossa narradora, a mais recente empregada doméstica ao serviço do matemático.  Intrigada pela realidade do patrão, bem como instigada por um exacerbado brio profissional, a jovem tenta, diariamente, ganhar a luta contra as limitações do Professor.  Pequenos pormenores saltam à vista…  A forma como o homem usa pedaços de papel e alfinetes para, fazendo de si próprio um quadro de recados, se conseguir recordar dos momentos e coisas importantes do quotidiano (fazendo, por exemplo, um retrato tosco da jovem para a reconhecer quando ela, diariamente, chegar a sua casa); a maneira como os seus olhos ganham vida de cada vez que fala de números, fórmulas ou equações; até mesmo a mania, quase infantil, de deixar sempre as cenouras no prato, tudo isso vai pintando à narradora (e, através dela, a nós que a acompanhamos na descoberta deste homem) o perfil de uma mente brilhante…  com curto prazo de validade.  Um dia, em conversa, a jovem conta-lhe que tem um filho, de 10 anos.  O Professor, isolado de tudo e de todos, fica horrorizado com a perspectiva de uma criança a deambular pelas ruas, até altas horas da noite, enquanto a mãe perde o seu precioso tempo a tomar conta de si.  Mandando-a embora, avisa-a que, daí em diante, a criança deverá acompanhá-la, no trabalho, após a saída da escola.  E é com esta nova personagem que o livro nos apresenta uma mudança na relação e nas vidas das três personagens.  O velho Professor apega-se a “Root” (nome que dá ao filho da empregada por este ter o alto da cabeça “tão plano quanto o símbolo da raiz quadrada”) e com ele (e através dele) revive uma vida que não se lembra e ganha novo alento para o Presente.  Mas nos livros, como na vida, nem sempre os percursos mais felizes levam aos melhores desfechos.

Vencedor do prémio Yomiuri e do prémio Hon'ya Taisho em 2003, este livro foi adaptado para o cinema em 2006.  Chega agora a Portugal e, espero eu, não há-de passar despercebido aos leitores do nosso país.

Nota 4 (até ao momento)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Quando eu era uma escritora!

A minha paixão pelos livros é assunto sério...  e estranho!
Apaixonei-me sem saber ler uma letra...  Via o meu pai (leitor ávido) de nariz enterrado num livro e, na minha cabeça de criança de 2 ou 3 anos, perguntava-me qual o fascínio.  E assim, sem me dar conta, estava apanhada na teia da literatura.

Durante um tempo obriguei o meu pai, que, crédito lhe seja dado, tem a paciência de um santo no que toca a crianças, a ler-me a mesma história, noite após noite, até ter memorizado a história palavra por palavra, bem como quando virar a cara da página da esquerda para a da direita e quando voltar a página.  E, quando tinhamos visitas, levava a cena o meu espectáculo...  a peça do "olhem para mim que já sei ler sozinha!"

Ao mesmo tempo que aprendia o gosto de ler, descobria que a imaginação (alimentada por todas as histórias que obrigava a família a ler-me) dava os seus primeiros sinais.  E assim, sem saber a forma de um "A", "B" ou "C", comecei a "escrever".  Mais uma vez, o Santo (leia-se "Pai"), veio em meu auxilio.  Pegava num molho de folhas A4, desenhava quadrados com estreitos rectangulos por baixo, e deixava-as comigo.  Durante o dia eu imaginava as minhas histórias, criava heróis, vilões e enredos e, uma vez que não sabia escrever, desenhava as histórias nos quadrados.  À noite o meu pai chegava do trabalho, cansado de dias muito para lá das 8h laborais diárias, e arranjava em si o espírito e a energia para se sentar ao meu lado e, comigo a ditar a história, escrevê-la cuidadosamente nos rectangulos inferiores com a sua bela letra de desenhador-projectista.  Eu era feliz!  Eu era escritora!

O gosto pela escrita mantém-se!  E, ultimamente, as memórias destes primeiros passos como "autora" vêm-me frequentemente à memória.  Com um filhote quase a fazer 10 meses, para o qual tenho o privilégio de criar histórias, tenho recordado mundos encantados em que duendes e fadas são uma constante, em que os cães e os coelhos se expressam num português correcto, em que os meninos são principes e vivem aventuras e onde, de cada vez que a imaginação ganha asas e as histórias brotam, eu sou uma menininha de 3 ou 4 anos, à espera que o pai chegue a casa para tomar nota das suas histórias!


domingo, 7 de agosto de 2011

Como explicar a um bebé de 9 meses que para "saborear" uma história não tem de comer o livro?

sábado, 6 de agosto de 2011

Há dias assim...

Isto de se trabalhar no atendimento ao público tem o que se lhe diga...  Nem todos possuem a diplomacia e a compustura necessárias para estar, todos os dias, em frente a um balcão...  Mesmo os que têm a capacidade de se controlar, invariavelmente acabam por, num ou noutro dia, desejar poder despir a "farda" e responder enquanto indivíduos e não estatísticas.  Eu sou uma dessas pessoas!

E depois...

Há dias assim...

Hoje acordei e, como sempre, tinha os minutos contados.  Levantar, preparar-me, vestir-me, acordar o Pipoca, trocar fralda, dar biberon, trocar o babygrow da noite pela roupinha para o dia, levar a carga toda dele para o carro, pegar nele e na mala, fazer malabarismo com a chave da porta e a chave do portão e a chave do carro, pegar em nós e ir levar o Pipoca a casa dos meus pais antes de ir para a livraria.  O Pipoca hoje estava do contra...  Tudo era pretexto para brincar e o vestir, que por norma é uma tarefa relativamente rápida, tornou-se num trabalho hercúleo.  Cheguei a casa dos avós já cansada e a suar...  E ainda tinha pela frente um dia a descarregar e arrumar livros e a atender as pessoas que, privadas de um Agosto balnear, acabam a deambular pelos shoppings do País.

Mas...

Há dias assim...

Dos primeiros 10 clientes que atendi, 4 ou 5 eram uma delícia!!!  Simpáticos, educados, agradáveis...  Ouviam o que lhes dizia e fizeram-me acreditar que, para eles, eu era mais que a funcionária de colete que os guia à prateleira pretendida...  Era a Raquel...  A "jovem" apaixonada pela leitura e pelos livros, cuja opinião é válida, interessante, inteligente... 
Foi como se tomasse um "comprimido espiritual", que me deu força, qual suplemento vitamínico, para o resto do dia.
Hoje, as costas doeram um pouco menos ao serem vergadas pelo peso dos livros.  Hoje o relógio não era o inimigo a vencer para poder, rapidamente, ir ao encontro do meu Pipoca.  Hoje as tricas do trabalho passaram-me ao lado.  Hoje arrumei o móvel dos dicionários e do apoio escolar com um sorriso nos lábios.

Isto tudo porque...

Há dias assim...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Uma aventura no coração de África… até ao mais profundo de nós mesmos.


Até Lá Abaixo
3 homens, 1 jipe e 150 dias de aventura em África
de Tiago Carrasco
Editor: Oficina do Livro
ISBN: 9789895557288


Sinopse:
Em 2010, o jornalista Tiago Carrasco e dois amigos, o fotógrafo João Henriques e o cameraman João Fontes, decidiram largar os seus empregos mal pagos e concretizar um velho sonho: atravessar o continente africano de automóvel. O pretexto que arranjaram foi o Mundial de Futebol, que se realizava em África pela primeira vez, mas a viagem seria muito mais do que um longo passeio destinado a celebrar o desporto mais popular do mundo - seria, sim, o maior desafio da vida destes três homens.

Este é o relato das emoções e das peripécias que Tiago Carrasco e os seus companheiros de estrada viveram ao longo desses 150 dias alucinantes, passados no deserto e na selva, em aldeias perdidas e nos bairros das lata de grandes cidades, em lugares vergados à pobreza e à violência e noutros onde a esperança subsiste apenas por milagre. Até Lá Abaixo descreve-nos esta epopeia de 30 mil quilómetros, de Marrocos à África do Sul, passando por 21 países, que é também uma viagem interior aos nossos medos e à nossa capacidade de superar as maiores contrariedades. Uma lição de sobrevivência. E uma aventura inesquecível.




Vivemos um momento na nossa vida económico-social em que expressões como “Geração à Rasca”, “precariedade”, “desânimo”, “desemprego” e “recibos verdes” tornaram-se, infelizmente, parte do vernáculo português. Este livro, nascido de tais circunstâncias, dá-nos a esperança de, no meio do nada, podermos encontrar uma resposta para as questões que nos tiram o sono.

Tiago Carrasco, jornalista, 28 anos, poderia ser o poster-child da supracitada Geração à
Rasca. Perseguindo o sonho de uma carreira na comunicação, lançou-se, esperançoso, no jornalismo. O trabalho, precário e a recibos verdes, não lhe trazia a estabilidade e segurança por que ansiava. O desânimo instalava-se, cada vez mais, e o desemprego era, muitas vezes, a sua realidade.
Numa dessas alturas juntou-se a dois amigos (o fotógrafo João Henriques e o cameraman João Fontes) e, sob o pretexto do Mundial de Futebol na África do Sul, decidiu embarcar numa aventura que iria, como mais tarde se provou, não só mudar os seus dias mas, também, as suas perspectivas de vida. Os três homens decidiram fazer em 150 dias, e num jipe, os 30 mil quilómetros que separam Marrocos do país anfitrião do Mundial, atravessando, pelo caminho, 21 países africanos.

O que começou por ser uma aventura (com a qual a maioria poderia sonhar mas nunca ousaria fazer) e uma fuga a uma realidade desgastante, acabou por se revelar uma viagem ao mais profundo de si mesmos, uma viagem de auto-conhecimento em que as prioridades foram pesadas e em que novas metas de vida se traçaram…

Às vezes, para bem avaliarmos a nossa vida, temos de nos afastar dela…

Recomendo este livro a todos os portugueses que anseiam por manter uma esperança no futuro.


sábado, 2 de julho de 2011

Ser mulher... no coração negro da guerra...


"As Mulheres dos Nazis"
de Anna Maria Sigmund
Editora: A Esfera dos Livros
ISBN: 978-989-626-306-5
EAN: 9789896263065



Sinopse:

 Adolf Hitler exercia um enorme fascínio sobre as mulheres. Emocionadas, com lágrimas nos olhos, eram as protagonistas de uma autêntica histeria de massas em eventos públicos onde aquele discursava. As senhoras da sociedade alemã de então também o admiravam e abriram-lhe o caminho para o sucesso. Mulheres como Hanna Reitsch, Leni Riefenstahl e Winifred Wagner elevaram a fama do seu ídolo. Geli Raubal, a sobrinha de Hitler, cometeu suicídio por sua causa e Eva Braun seguiu-o até à morte. Quem eram as mulheres dos oficiais de Hitler? Como viveram? Qual foi o seu papel na vida oficial, e nos bastidores? O que sentiu Magda Goebbels quando assassinou os seus seis filhos em 1945? Como lidavam Carin e Emmy Göring com o vício de morfina do seu marido? Como encarou Henriette von Schirach a decisão do seu marido de deportar 60 mil judeus de Viena? Corresponderam Unity Mitford e outras mulheres envolvidas no círculo nebuloso da elite do Partido Nacional-Socialista ao ideal que se propagava: «O homem cuida do povo e a mulher da família?» A historiadora Anna Maria Sigmund responde a estas e outras questões, numa obra fascinante e original sobre o lado feminino do Terceiro Reich.



Foi com uma curiosidade aguçada que me debrucei sobre este livro.  Via, na sua leitura, a possibilidade de perceber como seria, para uma mulher, viver no meio do regime nazi, com todas as suas atrocidades, e conseguir levar a vida sabendo-se rodeada de tanta dor e tanta morte.  Claro que não sou ingénua ao ponto de pensar que a crueldade e a malvadez são caracteristicas exclusivas do chamado sexo forte, e bem sei que sempre houve, e sempre haverá, mulheres para quem o poder é o melhor dos afrodisíacos...  mas, ainda assim, e para mais sabendo que o papel da mulher no Terceiro Reich era o da matrona que, apoiando o marido, servia ainda de exemplo à prole e à sociedade, fazia-me muita confusão pensar em como essas mulheres conseguiam consiliar dois aspectos tão díspares da sua personalidade.

Pois bem...  Algumas não tinham qualquer problema em fazê-lo, gozando do seu status às custas de um preço demasiado alto a pagar por terceiros.  Outras havia, no entanto, que, aparentemente, estavam, pura e simplesmente, cegas ao que as rodeava.

Se, num prato da balança, encontramos mulheres como Magda Goebbels que, tendo sido criada por um padrasto judeu e amante de um outro, renunciou de bom grado a tudo e aceitou casar-se com Joseph Goebbels principalmente para estar próxima de Hitler, que idolatrava (um dos pontos em comum que tinha com o marido), ao serviço de quem colocou a casa que ganhara aquando do divórcio do primeiro casamento para que o Fuhrer podesse fazer as suas reuniões em local seguro; no outro prato temos, por exemplo, Emmy Göring, segunda esposa de Hermann Göring, ex-actriz, que pouco lidava com o líder nazi e que, com a sua influência junto ao marido, chegou a ajudar colegas actores de origem judia, a quem, aparentemente, recebia na sua casa.

Em comum, todas tinham o facto de viverem completamente abstraídas do que se passava a seu redor...  quer por escolha ou (possível) ingenuidade.  Fausto, riqueza e fartura faziam parte do seu quotidiano.  A dor só a conheceram no final, com o desmembramento do Terceiro Reich e o julgamento (ou suicídio) dos maridos e delas próprias.  Alegando ignorância pediram a clemência que os nazis não demonstraram durante o seu "reinado".

O livro é super interessante e faz-nos o retrato de oito "esposas-nazi"...

No final, continuo com dúvidas...

Nao acredito que alguém possa ter vivido no centro da filosofia nazi e não se ter dado conta no meio do quê estava a viver...  Ninguém é assim tão ingénuou ou distraído...


Nota 3

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A Morte dos Livros?



Um dos requesitos para se trabalhar numa livraria é tentar estar-se sempre a par das novidades...  Mesmo das que não se gosta...  Uma das novidades é o download de livros para o Kindle ou para o IPad...
O meu chefe já por várias vezes me confidenciou o seu receio de que estas novidades tecnológicas possam colocar em perigo o nosso papel de livreiros...  que nos torne obsoletos.

Tenho de admitir que compreendo a sua preocupação...  em parte.
Vivemos numa sociedade de novas tecnologias, em que os gadgets são cada vez mais cobiçados e em que a imagem vale ouro...
Mas...
Sou incapaz de me ver a ler obras de outra forma que não em formato de livro...  Nem gosto de ler por fotocópias (maneira como sobrevivi muitas vezes nos anos de estudante).  Para mim não há nada melhor que poder folhear as páginas de um livro...  passar os dedos na superfície ligeiramente àspera das folhas, perdermo-nos na teia das fibras que as compõem...  ter a sorte de ler um livro antigo, com as suas folhas amarelecidas e cheiro adocicado...  poder olhar para um quarto forrado a livros, não há melhor decoração, mais viva, mais bela... 

Para mim um livro não é só um livro, é um objecto de arte, de decoração, de culto... 

Não me imagino a viver num Mundo sem livros...

Só espero, para o bem dos livreiros e das livrarias, que a maioria das pessoas concorde comigo...



quinta-feira, 30 de junho de 2011



Uma das coisas melhores, para mim, na profissão de livreira é poder, de alguma forma, contribuir para a "educação" e formação literária de alguém no início do seu percurso...  Todos os que se apaixonaram pela palavra impressa tiveram, em algum ponto, uma ou outra experiência, um encontro fortuito com alguém, que lhes marcou o percurso de leitores.

A mim, foi a D. Milú!  Uma senhora pequenina e franzina, de passo acelerado e cabelo alvo como a neve, que tinha uma papelaria em Sintra...  Antes de começar a ler (com destreza) livros, os meus pais compravam-me, todas as semanas, uma ou duas revistas de B.D. (fossem da Disney ou da Turma da Mónica).  Com uma paciência de Job, a D. Milú retirava para cima do balcão todas as revistas e via-me, por vezes durante uma meia-hora, a debater-me com o dilema de ter de escolher entre o Cascão, o Cebolinha ou o Pato Donald.  Sempre teve um sorriso nos lábios, uma palavra meiga e uma amizade verdadeira pela criança de 6 anos que tentava escolher o que melhor se adaptaria ao seu gosto volátil.  Ainda hoje, aos 32 anos, tenho por ela um enorme carinho e, sempre que passo na sua recentemente fechada papelaria, sinto a nostalgia de uma felicidade terminada...

Esta semana fui, novamente feliz...  Senti que, de alguma forma, me tornei a D. Milú de alguém...
Uma senhora foi à minha loja com a sua filha de 11 anos.  Vieram ter comigo.  A filha segurando excitadamente entre as mãos um exemplar de "A Vida de Pi"...  A mãe preocupada com a escolha da filha.  Aproximaram-se e a mãe proferiu uma pergunta que, apesar de a ouvir inúmeras vezes, continua a não me fazer o menor sentido: "Este livro é indicado para uma criança de 12 anos?"

Faço aqui um pequeno àparte...  Esta é uma questão com que me debato desde que comecei a trabalhar numa livraria...  Já perdi a conta à quantidade de pessoas que me aborda à procura de "um livro para uma senhora que vai fazer 52 anos", ou "para um senhor na casa dos sessenta", ou "para uma criança de 8, mas que é muito precoce".  Os livros não têm um prazo de validade...  Não há nenhum livro que tenha de ler a partir da hora em que faz 52 e até ao minuto anterior a completar os 53, sob o risco de "autodestruir-se"!  E, a falar a verdade, a maturidade literária varia consoante o leitor e não a idade do mesmo...  Há pessoas de 50 e tal anos que nunca leram mais que uma Nora Roberts ou um Nicholas Sparks (excelentes autores do seu género) e crianças de 11 (como a menina de que falo) que já leram o "Diário de Anne Frank"...  Eu própria tomei conhecimento e apaixonei-me por Tolstoi aos 13 anos (facto que salientei à mãe da minha cliente...  que não se coibiu de me informar de que eu "não era normal"), o que não invalida que aos 32 anos releia com gosto os livros de Agatha Christie que fizeram as minhas delícias aos 11 anos.

Voltando ao que interessa...  O livro em questão era para oferecer como prenda de aniversário a uma amiguinha da rapariga que, já tendo lido "O Diário de Anne Frank", a mãe tinha receio que não tivesse maturidade para "A Vida de Pi" (que a própria filha estava a ler com gosto).  Dei-lhe o meu conselho sincero...  Acredito, piamente, que se um jovem mostra apetência para a leitura a mesma deve ser fomentada e alimentada por quem o rodeia...  Deve-se, sempre, estimular o gosto, ajudando-o a evoluir e crescer como leitor...  E, mesmo receando a rápida evolução e um crescimento rápido, a verdade é que isso é, a meu ver, preferível a uma castração ou a um retrocesso a quem já conseguiu tal evolução.

Levaram "A Vida de Pi"...  e a menina saiu excitada com a perspectiva de ler Tolstoi aos 13 anos.

Dois dias mais tarde, na minha hora de almoço, fui às compras ao shopping...  No regresso à loja encontrei de novo as duas...  Fui agraciada com 2 enormes sorrisos e com a excitante novidade de que a aniversariante se apaixonara pelo livro só de lhe tomar o peso e ver a capa...

Sorri...

Por mim e pela D. Milú...

Lição aprendida, mestra!


quinta-feira, 16 de junho de 2011

Cada um com as suas pragas...

As Dez Pragas do Egipto
(in Almanaque Sábado 2011)

1 - O Rio Nilo e toda a água do Egipto transformam-se em sangue.
2 - O Rio Nilo regurgita rãs, que invadem as residências dos egípcios.
3 - O pó da terra transforma-se em mosquitos.
4 - Moscas venenosas.
5 - A peste aniquila todo o gado egípcio.
6 - Uma epidemia de úlceras e tumores, espalhada a partir de cinza de forno que Moisés lança ao ar.
7 - O granizo destrói toda a verdura dos campos e arruina as colheitas.
8 - Uma praga de gafanhotos arrasa o que tinha escapado ao granizo.
9 - Densas trevas cobrem o Egipto durante três dias.
10 - Páscoa judaica: Deus mata o filho primogénito de todos os egípcios.


Os Dez Clientes Praga de um Livreiro
(quando são dados exemplos foram vividos na primeira pessoa)

1 - O que não sabe bem o que quer. ("Desculpe, estou à procura de um livro...  Não sei o título nem o autor, mas a capa é azul e custa 19,90€").
2 - O que julga que temos a obrigação de ver os mesmos programas de televisão e tomar nota dos títulos que lhe interessam (e que pedem o "livro do Professor Marcelo", o "livro da Oprah" ou "Olhe, eu queria um livro de que estavam agora a falar na Antena 1.  Sabe qual é?  Vinha a ouvir o programa à vinda para cá!")
3 - O que começa a falar sem, sequer, nos cumprimentar e que, em resposta aos nossos "bons dias", se chateia por achar (correctamente) que estamos, subtilmente, a chamá-lo de mal-educado.
4 - O que, ao não encontrar o que pretende, se vira contra quem o está a tentar ajudar ("Desse autor, com esse título não temos nada, mas eu mostro-lhe onde estão os livros dele." "Você não percebe nada disto!  Vá mas é dar uma volta!"  "Ok!")
5 - O que, por frequentar uma livraria, se julga superior ("Quero um livro, não sei o autor mas chama-se Os Maias" "Ah, sim...  E quer dos Livros do Brasil?"  "Duh!  O autor é português!")
6 - Os que assumem automaticamente que toda e qualquer pessoa a trabalhar numa grande superfície comercial só lá está para ganhar uns cobres para a noite.
7 - O que ateima no erro ("Desculpe mas não é isso...  Quero o "Amor em Tempo de Guerra" do Gabriel Garcia Llorca!")
8 - O que nos coloca perguntas, no mínimo, constrangedoras ("desculpe, viu "O Meu Pipi"?")
9 - O que encomenda livros caríssimos sobre temas específicos, que sabe que não vai comprar, e que os acaba por abandonar por trás de uma pilha de cds na secção da Música (como se assim não soubessemos que não os comprou)
10 - O que, por mais que nos esforcemos, não percebe a diferença entre "esgotado" e "não disponível" ("Desculpe, mas esse livro já está esgotado" "Ah, então pode encomendar" "Não...  Está esgotado...  A editora já não faz mais!" - por norma este cliente solta uma de duas exclamações quando finalmente "cai a ficha": 1 - "Um livro tão bom!  Realmente"  Só publicam porcarias!"  2 - "A ver se a menina diz à editora para voltar a fazê-lo"...  Sim...  Eu sou unha com carne com o Assírio e o Alvim  :P)


Bem sei que, quando comparadas, as minhas pragas parecem uma ninharia...  Mas as pragas do Egipto já foram há tanto tempo...  E o Egipto é tãããããão longe!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Crime e Castigo... À Portuguesa!

"Crime e Castigo
no País dos Brandos Costumes"
de Pedro Almeida Vieira
Editora Planeta
EAN 9789896571900

Sinopse


No jardim à beira-mar plantado chamado Portugal consta que sempre viveu um povo sereno e de brandos costumes.
Este livro vai desfazer o mito.
Na verdade, a História de Portugal mostra que, desde tempos remotos, homens e mulheres mataram por paixão ou por motivos fúteis, bandidos semearam o pânico, houve serial killers, violadores e facínoras da pior espécie, ladrões de igrejas e hereges. Muitos sofreram depois, no corpo, as consequências dos seus actos, perante um Estado que então aplicava a lei de talião: olho por olho, dente por dente.
Um exacto século depois da Constituição da República de 1911 ter abolido a pena de morte para todos os crimes, e 250 anos após a última execução numa fogueira da Inquisição, eis o retrato verídico de uma selva à beira-mar plantada, através de 30 narrativas que relatam crimes históricos em Portugal. 
 
 
Ao pensar nos outros povos a maior parte de nós tem ideias pré-concebidas que dificilmente afastamos.  Quando o assunto são os povos mediterrâneoa, os conceitos são limitativos...  Os Italianos são Apaixonados e Apaixonantes; os Espanhóis são Efusivos e Festivaleiros; os Portugueses...  são Apáticos.
Neste livro, o último título a sair da pena de Pedro Almeida Vieira ("Nove Mil Passos", "A Corja Maldita" e "A Mão Esquerda de Deus", o autor abana as fundações sobre as quais assentam esses preconceitos.
Através do relato de 30 crimes cometidos antes da abolição da pena de morte no nosso País, Pedro Almeida Vieira mostra como, mesmo na pacatez saloia do Portugal de outros tempos, o crime, a sede de sangue, a malvadez e a crueldade corriam nas veias de um povo que, aparentemente, possuía a calmaria de um mar sem ondas...  apenas para provar que, como este, na sua imensidão e profundidade se escondiam perigos iminentes.
Os relatos abrangem toda uma panóplia de crimes; das façanhas de Diogo Alves no Aqueduto das Águas Livres; passando pela bela adúltera que mais que apupada foi cantada em verso a caminho do castigo final; passando por Luísa de Jesus, uma infanticída que recolhia crianças da Roda dos Expostos (onde eram deixados os orfãos e "filhos de pais incógnitos", apenas para as matar às dezenas; e, finalmente, a história de Maria José, a jovem que com o seu crime (matou e desmembrou a mãe) acordou a chama literária de um jovem de 23 anos, de seu nome Camilo Castelo Branco, que a viria a imortalizar na obra "Maria! Não me Mates, Que Sou Tua Mãe!" (Editora Diversos, EAN 9789728983017).
 
O livro, apesar de estar longe de ser um pilar da literatura, lê-se muitíssimo bem (com a curiosidade mórbida que faz com que se abrande ao passar num acidente, e com o gosto envergonhado e cheio de culpa com que se visitam os sites de novidades cor-de-rosa...  aquele género de coisa que, apesar de gostarmos, custa-nos a admitir publicamente)...
 
Nota 3 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Clube de Leitura Fnac

Como já aqui disse, trabalho numa livraria.  O que julgo nunca ter partilhado é que essa livraria é a Fnac.  Comecei a trabalhar lá à 3 anos e meio, levada pela paixão pelos livros.  Estudara para ser Tradutora e acabei livreira...  Mas o contacto desejado com os livros concretizava-se!
Venho, no entanto, dar-vos conta de uma novidade e não relatar o meu percurso profissional!
Desde sábado passado os clientes Fnac (e todos aqueles que, mesmo não o sendo, adoram a palavra impressa) têm a oportunidade de fazer parte do Clube de Leitura Fnac, que traz à mesa obras escolhidas por autores da nossa praça, para que possamos, em conjunto, lê-las e debatê-las.

A primeira obra é "A Ofensa" de Ricardo Menéndez Salmón.  Primeira obra da trilogia deste autor espanhol de referência, foi esta a escolha de valter hugo mãe.

Quem quiser partilhar opiniões sobre esta e outras obras futuras, ou apenas recolher ideias sobre possiveis leituras, pode fazê-lo em http://clubedeleitura.fnac.pt/

Eu, como uma dos comentadores de serviço, aguardo a vossa visita!


domingo, 10 de abril de 2011

Reciclagem

Hoje em dia "Reciclar" é a palavra de ordem...  Existem campanhas de sensibilização, eco-pontos a cada esquina, olhares de soslaio a quem não separa o vidro do papel...  Bem...  Eu também ando a fazer uma reciclagem (à minha maneira). 
Finalmente tenho a desculpa perfeita para limpar o pó aos livros que me encheram as medidas em criança...  Partilhar as minhas lembranças com o meu filhote de 5 meses ao mesmo tempo que vou criando lembranças nele.  Tenho pena que, por ser rapaz, as histórias da Condessa de Ségur, a colecção da Gémeas no Colégio de Santa Clara e a do Colégio das 4 Torres (ambas da Enid Blyton) lhe vão passar ao lado mas, por enquanto, partilho o que posso...  Aqueles livros coloridos em que as palavras são poucas e os desenhos contam a história.  O Alexandre, até ver, vibra com os livros, as ilustrações e a voz da chata da mãe a ler, por vezes em "repeat", as suas primeiras histórias...  Pode ser que, com um pouco de sorte, tenha herdado o gosto pela leitura da mãe e do avô materno...  Enquanto ele me aturar vou continuando!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Pretty Woman da literatura

"A Romana"
Alberto Moravia
Ulisseia
ISBN: 972-568-449-4

EAN: 9789725684498

Sinopse


A Romana, publicada numa época em que a Itália do pós-guerra vivia numa situação de extrema penúria, é a descrição pormenorizada da queda anunciada de uma jovem, Adriana, que no entanto conserva dentro de si, através de todas as vicissitudes que a vida a força a enfrentar, uma surpreendente pureza de alma.
 
 
 
Este livro, um dos mais conhecidos, no nosso país, de Alberto Moravia, foi escrito entre 1943 e 1946, sendo publicado em ’47 e foi, segundo vários críticos da obra do autor, um marco importante no desenvolvimento criativo do escritor.


Focada principalmente em Adriana, uma jovem pobre, sensível, optimista e sonhadora que, quebrada pelas agruras da vida, recorre à prostituição como forma de subsistência, a obra conta ainda com outras personagens que, à sua maneira, vivem também a sua desilusão e mágoa de viver – um oficial Fascista e um idealista que, ao ser interrogado por agentes, acaba por, contra as suas ideologias e crenças, entregar os seus colegas ás autoridades. Sendo a desilusão humana face aos obstáculos que a vida lhe impõe uma característica de Moravia, este romance tem, contudo, um véu de esperança que, sendo uma característica única e pessoal de Adriana, não encontramos nas outras obras.

Adriana, uma jovem de grande beleza e dona de um corpo escultural, vive com a sua mãe, Margherita, num nível de pobreza honesta. Adriana aspira, mais do que tudo, a um casamento feliz com Gino, por quem se apaixona perdidamente, mas a sua mãe, costureira de profissão, após ter sido seduzida e abandonada por um homem, perdeu toda a confiança nos homens e no casamento… Assim sendo, planeia a sua própria ascensão social às custas da beleza da filha. Para isso começa por incentivar Adriana a posar como modelo para pintores. Nos estúdios dos artistas conhece outras raparigas que para eles posam, sendo que começa uma amizade com Gisella, uma rapariga que, sem que Adriana o saiba, não olha a meios para atingir os fins. Entretanto um agente policial fascista, Astarita, apaixona-se por Adriana e pretende, a qualquer custo, partilhar com ela momentos de amor e luxúria. Com a cumplicidade de Gisella, e recorrendo à chantagem e ao amor que ela tem por Gino, consegue partilhar com ela momentos de intimidade pelos quais lhe paga a soma de 3 mil liras. Mais tarde, e descobrindo que Gino já é casado, Astarita usa esta informação para tentar fazer com que a jovem se apaixone por si. Desiludida com o amor e os homens, Adriana decide que não será mulher de nenhum mas amante de todos, tornando-se prostituta. Após várias peripécias, sempre seguida pelo polícia que a não esquece, Adriana conhece e apaixona-se por Giacomo, um estudante de Direito, reivindicativo e permanentemente descontente com a sociedade e com todos (incluindo ele próprio). Giacomo, um idealista que, por vezes, parece não saber em que acredita, planeia com amigos uma revolta anti-fascista chegando, inclusive, a elaborar panfletos de teor político. Quando, mais tarde, é pressionado pela polícia, trai os seus ideais e os seus amigos, entregando-os aos agentes. Incapaz de viver com o remorso, acaba por se matar.

O curioso deste romance é que a personagem que mais motivos tem para se entregar ao desânimo, Adriana (primeiro pela sua pobreza e pela criação que a sua mãe lhe dá, depois pela forma como é, continuamente, enganada e usada pelos homens da sua vida, a forma como tem de usar os atributos físicos para conseguir sair do negrume social e económico em que vive, o facto de engravidar de um homem que não ama e de perder o homem que quer), é precisamente essa a personagem que transmite a sensação de esperança, crença e optimismo que, ainda que subtilmente, dá o colorido à obra.


Nota 4

quinta-feira, 24 de março de 2011

Você só precisa de uma ideia!
Como tornar os seus sonhos realidade, desde a ideia inicial até ser milionário
Donny Deutsch
Academia do livro
EAN/ISBN - 97898981944312


Sinopse
As grandes ideias estão por todo o lado. Todos os dias, muitas pessoas lembram-se de inovações em que ninguém tinha pensado antes e, frequentemente, essas ideias surgem a partir de uma necessidade, de algo que estava em falta, de um desejo de tornar a vida um pouco mais fácil e melhor. As pessoas que transformam as suas ideias em milhões são muito diferentes: mães de classe média, estudantes universitários, pessoas que desejam mudar de emprego ou dar um novo estímulo à sua carreira, empregados de escritório, reformados, etc. Todas elas arriscam e alcançam objectivos extraordinários. Em comum têm o entusiasmo pelas suas ideias.

Em Você Só Precisa de uma Ideia, Deutsch baseia-se não só na sua enorme experiência, mas também na de centenas de outros empreendedores de sucesso que entrevistou. Mostra também como concretizar uma ideia e ultrapassar os diferentes obstáculos que se colocam no caminho.




Li este livro de um fôlego… ou, se quiser ser mais precisa, em três dias e meio. Achei que era um “livro inteligente”. Não pelo seu conteúdo, ou a temática que aborda, mas pela maneira como está escrito. Este é um perfeito exemplo de magistralidade comercial. O autor consegue convencer-nos a lutar por algo de que nem sequer temos a certeza de querer! Eu, que nunca ambicionei a megalómana meta do empreendedorismo milionário, dei comigo a pensar: “Ok, agora SÓ PRECISO DE UMA IDEIA”!

Infelizmente, aqui acabam os pontos positivos desta obra (na minha, muito, humilde opinião). Ao folhear as páginas um pensamento recorrente teimava em surgir… “isto é um livro de auto-ajuda… para empresários”. Os princípios dos livros de espiritualidades estão aqui presentes e gritam ao leitor… cada página tenta insuflar-nos a auto-estima através de frases feitas como “não aceite NÃO como resposta”, ou “se algo é possível de ser pensado é possível de ser conquistado”. Este tipo de frase serve sempre como prólogo (ou, por vezes, epílogo) a exemplos de “bravos” anónimos que não se coibiram de sonhar… Mulheres que colocam os separadores de talheres da máquina de lavar loiça na mala e “inventam” uma mala compartimentada que lhes dá milhões a ganhar… Mães que, aos quarenta anos, são corajosas ao ponto de iniciar uma carreira milionária no competitivo mundo do Rock… Homens que se tornaram milionários de um dia para o outro graças às suas t-shirts com o slogan “Life is Good”. Ou seja… Demonstrações palpáveis de que os milhões “andam aí”, só à espera que nós tenhamos uma ideia!
A minha avaliação é simples e simplista: este é um livro escrito para o povo norte-americano! Aqueles que, toda a vida, ouviram falar do “sonho americano” e que, desde crianças, são alimentados na esperança de que esse sonho lhes seja atingível. Na realidade portuguesa, perde-se! Torna-se um conto de fadas dos tempos modernos em que, nem o mais crédulo e esperançoso consegue acreditar!

Nota 2

terça-feira, 15 de março de 2011

E é amar-te assim, perdidamente...


Florbela Espanca - A Vida e a Alma de uma Poetisa
José Carlos Fernández
Edições Nova Acrópole
ISBN - 978-972-9026-84-3
EAN - 9789729026843


Sinopse:
"Ecos longínquos de ondas...  de universos...
Ecos de um mundo...  de um distante Além,
De onde eu trouxe a magia dos meus versos!"
Florbela Espanca, "Sou Eu!", in Charneca em Flor
Nestas páginas, o leitor encontrará um retrato da vida e da alma da maior poetisa portuguesa.  As cartas, o seu Diário, os contos que ela escreveu, os acontecimentos que viveu, factos objectivos na teia do mundo, permitem-nos conhecer melhor esta inspirada artista da palavra, Florbela Espanca.
E, ainda, penetrar no labirinto e no jardim encantado das suas intimas vivências e imaginação: Claustro de Saudade e Beleza do qual nunca sairemos iguais a quando entramos.  Pois Ela reina nele como puro símbolo e sacerdotisa do Eterno Feminino, nesse Amor inextinguível por tudo e por todos, que converteu nas jóias alquímicas e transfiguradoras de seus poemas.


Já alguma vez se apaixonaram literariamente? Um amor por aquele autor, ou autora, que se descobre quase por acaso e que nos acompanha ao longo dos anos? Eu, eterna apaixonada da palavra impressa, tenho tido algumas destas paixões ao longo dos anos (graças a dEUS, é aquele tipo de amor que, ao contrário das relações pessoais, não exige monogamia). A primeira (que como diz a sabedoria popular, nunca se esquece) terá sido a Condessa de Ségur, rapidamente seguida da Enid Blyton… depois, Agatha Christie… Tolstoi… E, um dia, descobri a poesia (andava escondida na biblioteca do meu pai, tão perto de mim e, ao mesmo tempo, escondida entre centenas de títulos). Aí ganhei dois novos amores: Vladimir Maiakovski e Florbela Espanca! Não sei explicar o gosto que me fez apaixonar por estes dois poetas tão díspares, mas a verdade é que ambos falaram à minha sensibilidade. Florbela, quiçá considerada uma poetisa de “pouca monta” (leia-se baixa qualidade) cativou-me com os seus versos simples e sonetos despretensiosos… e, talvez, com o seu passado que, tal como o meu, teve origem em terras alentejanas! O livro que me conquistou, o supracitado pertence de “papai”, é uma versão belíssima, com fotografias soltas a imitar as antigas, a preto e branco com um rendilhado branco à volta. Isso contribuía, na minha mente artística de criança, para o namoro com a autora de “Velhinha” (um dos meus sonetos favoritos da autora):


Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente em mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim:
“Já ela é velha! Como o tempo passa! ...”

Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio de oiro que esvoaça!
Deixem correr a vida até o fim!
Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente ...
Já murmuro orações ... falo sozinha ...
E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente,
Como se fosse um bando de netinhos ...

A sua vida, essa, dava, só por si, um livro (e, quem sabe, uma adaptação para novela de horário nobre). Nascida em Vila Viçosa a 8 de Dezembro de 1894, filha ilegítima de um homem que coleccionava empregos e que teve com outra mulher os filhos que não podia ter com a legítima, Florbela foi criada pelo pai e pela esposa (como sua madrinha) tendo, no entanto, só sido reconhecida como sua filha postumamente. Florbela tinha, ela própria, uma grande dose de socialmente incorrecto. Com seu irmão, Apeles, viveu um amor fraternal que muitos dizem ter ultrapassado a barreira do aceitável, havendo, inclusive, vozes que se ergueram para pronunciar a palavra proibida… incesto. O que não deixa margem para dúvidas, no entanto, é o extremamente depressivo estado em que Florbela se encontrava constantemente… Ao descobrir um edema pulmonar, em 1930, conseguiu com sucesso o que já antes tentara sem conseguir… suicidou-se. Tinha 36 anos.
Sei que já falei muito sobre este meu (sério) caso de amor… mas as paixões são assim… perdemo-nos nelas e nem notamos que nos monopolizam as conversas e a mente. Só posso deixar um conselho… Percam-se na nova biografia de Florbela, de José Carlos Fernández… Vale a pena o tempo dedicado!

sábado, 12 de fevereiro de 2011

well, duh!!!

Na livraria em que trabalho...
Atendendo uma cliente...
- Desculpe, tem algum livro de Sophie Calle?
- Não, de momento não temos nada dessa autora.
- Ah... E isso é na loja toda ou só neste computador?



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Deixem passar o homem invisível




Deixem Passar o Homem Invisível
Rui Cardoso Martins
D. Quixote
EAN: 9789722038287



Sinopse:

Durante uma grande enxurrada em Lisboa, um homem - cego desde os 8 anos, advogado - cai numa caixa de esgoto aberta, situada junto à igreja de S. Sebastião da Pedreira. Na mesma altura, um escuteiro que regressava de uma actividade na mesma igreja é também arrastado para o mesmo esgoto. É a viagem de ambos, através de uma Lisboa subterrânea, enquanto cá fora são tomadas todas as medidas para os salvarem, que o autor nos conta neste segundo livro. Mas é também a entreajuda, a cumplicidade entre o cego e a criança, naquela terrível aventura.
Pelo meio, as histórias de um ilusionista - Seripe (sic) de nome artístico, na realidade Pires ao contrário - , as recordações do homem cego do tempo antes de aquilo acontecer, a história de um camaleão que não acertava com a cor, e tantas outras tornam a leitura deste livro extremamente aliciante.


Crítica de imprensa:

O invisível aqui é a Lisboa "underground", a Lisboa de boqueirões, valas comuns, águas pluviais, passagens secretas, estacas. É uma Lisboa que os lisboetas vão descobrindo a cada pequena catástrofe, a cada obra nova. Lisboa é ao mesmo tempo uma cidade mal feita e engenhosa, toda ligada debaixo do chão, em camadas de arqueologia, de história, de higiene pública.
Pedro Mexia in Público



Hoje, antes da crítica ao livro, vem a crítica à crítica... A sinopse aqui apresentada, facilmente descoberta quando se "googla" o título desta obra, é, à falta de melhor adjectivo... imprecisa! Faz-me, verdadeiramente, muita confusão quando, ao ler a sinopse de um livro e depois na minha descoberta pessoal da obra (ou, neste caso, vice versa), me apercebo que, das duas uma: u quem escreveu a sinopse nem sequer abriu o livro, tomando o relato de algum representante da editora como verdade universal (e, acreditem, já tenho falado com a minha quota parte de fornecedores editoriais para saber que, na sua maioria, vêm com a lição estudada tão bem quanto o Professor Marcelo de Sousa), ou então não leram com olhos de ler... sinceramente, não sei qual será pior! Devo, por isso, começar por emendar o que deve ser emendado: "um homem (...) cai numa caixa de esgoto aberta"... não é verdade... o chão cede e ele desaparece num "enorme buraco". "um escuteiro (...) é também arrastado para o mesmo esgoto"... bem, dificilmente não desapareceria no mesmo buraco uma vez que IA AOS OMBROS do homem cego! E por fim, e aqui é só uma questão gramatical, o mágico chama-se Serip (Pires ao contrário, como é fácil de constatar, não termina em E)

Bem... quanto à obra...
Quando este livro chegou à livraria (em grande destaque por ter ganho o prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores/Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas de 2009) cativou-me de imediato. Ao ler a trama proposta achei que tinha o potencial para ser, não só uma grande obra, como uma crítica eficaz à sociedade portuguesa: um cego a guiar uma criança por entre túneis escuros e fétidos! Infelizmente, a história não se desenvolve na direcção que eu imaginei!
Atenção... Não deixa de ser, por isso, um bom livro! Mas, para mim, ficou-me aquele travo amargo de uma potencialidade perdida... Tanto que se poderia ter dito... E tão limitado que ficou o enredo!
Basicamente, a história divide-se em 3 planos: o sub-solo, onde António e João procuram a luz que os levará, de novo, ao ar da cidade de Lisboa; Lisboa, onde bombeiros, familiares e amigos (poucos de cada) se reunem na tentativa de elaboração de um plano de resgate; e o passado, as memórias de António que vão servindo de fio condutor à narrativa.
Assim, ficamos a saber da amizade de António e Serip, da sua relação com Helena (a mulher que, aparentemente, contra a sociedade geral decidiu casar com o "advogado ceguinho"), ficamos a conhecer a revolta de António com o lugar dos cegos na sociedade e da sua vontade de fugir a esteriótipos, a perseguição que os seus pais, e ele, por arrastão, fizeram a uma milagrosa cura e, finalmente, ficamos a saber o que foi "aquilo que aconteceu naquele dia" (ou seja, o motivo da sua cegueira repentina). De João sabemos pouco... É escuteiro. Já tinha feito a boa acção do dia. Vive com a mãe. Inventou com o pai uma história de um camaleão. O pai morreu! Informações telegráficas que nos surgem nos intervalos da história de António. No fim, sabe-se, as duas histórias cruzam-se num momento marcante na vida de ambos... ainda que nenhum o saiba de início e só António o perceba.
Pelo meio, conhecemos a figura caricata de Serip, um utopista inocente perdido em bordéis, casinos e casas de entertenimento...
Soube a pouco!

Nota 3