domingo, 22 de abril de 2018

Nova casa

Mudámos de casa...

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quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

História de Amor dos Tempos Modernos

Há cerca de duas décadas cheguei a um encontro de amigos, à noite, num café, apenas para encontrar um dos ditos em extremo entusiasmo. Contou-me que, quando se preparava para sair e vir ao nosso encontro, ligou a televisão na RTP2 para ser saudado pela actriz Ana Brito e Cunha que, de forma simpática, o elucidou sobre o facto de ser um Idiota. Enquanto a música cuspia decibéis à nossa volta, ele falava-me do poema que desconhecia e que ouvira só parcialmente.

- Assim que liguei a televisão e me preparava para sentar no sofá, ela disse “Sente-se… Está sentado? Você é um Idiota!”. Foi tão estranho… Mas como liguei a televisão no momento em que estava a começar a declamar, nem sei de quem é…
- É do Bertold Brecht. – respondi.
- Tu conheces?
- Sim… Tenho o livro de poesia do Brecht… Vou ver se te trago.

Nessa noite acho que nos (re)descobrimos. Ele olhava-me com a admiração de me descobrir conhecedora de Bertold Brecht. Eu, surpreendida com este rapaz que desistira da escola para arranjar carros, mas que se deixava arrebatar pela poesia. No encontro seguinte levei-lhe uma fotocópia do poema. Continuámos a mútua (re)decoberta. Meses depois concluímos que havia mais que uma amizade. Faz hoje 19 anos que partilhamos poesia. E, recentemente, ele voltou a surpreender-me… Foi aos seus papéis e veio mostrar-me um em especial… Dobrado, com vincos de 20 anos, estava a fotocópia que lhe dera.

"Sente-se.
Está sentado?
Encoste-se tranquilamente na cadeira.
Deve sentir-se bem instalado e descontraído.
Pode fumar.
É importante que me escute com muita atenção.
Ouve-me bem?
Tenho algo a dizer-lhe que vai interessá-lo.

Você é um idiota.

Está realmente a escutar-me?

Não há pois dúvida alguma de que me ouve com clareza e distinção?
Então Repito: você é um idiota. Um idiota.
I como Isabel;
D como Dinis;
outro I como Irene;
O como Orlando;
T como Teodoro;
A como Ana.
Idiota.

Por favor não me interrompa.
Não deve interromper-me.
Você é um idiota.
Não diga nada.
Não venha com evasivas.
Você é um idiota.
Ponto final.

Aliás não sou o único a dizê-lo.
A senhora sua mãe já o diz há muito tempo.
Você é um idiota.
Pergunte pois aos seus parentes.
Se você não é um idiota...
claro, a você não lho dirão, porque você se tornaria vingativo como todos os idiotas.
Mas os que o rodeiam já há muitos dias e anos sabem que você é um idiota.
É típico que você o negue.
Isso mesmo: é típico que o Idiota negue que o é.
Oh, como se torna difícil convencer um idiota de que é um Idiota.
É francamente fatigante.
Como vê, preciso de dizer mais uma vez que você é um Idiota e no entanto não é
desinteressante para você saber o que você é e no entanto é uma desvantagem para você
não saber o que toda a gente sabe.
Ah sim, acha você que tem exactamente as mesmas ideias do seu parceiro.
Mas também ele é um idiota.
Faça favor, não se console a dizer que há outros Idiotas:
Você é um Idiota.
De resto isso não é grave.
É assim que você consegue chegar aos 80 anos.
Em matéria de negócios é mesmo uma vantagem.
E então na política!
Não há dinheiro que o pague.
Na qualidade de Idiota você não precisa de se preocupar com mais nada.
E você é Idiota

(Formidável, não acha?)"


por Bertolt Brecht






terça-feira, 2 de janeiro de 2018

O Homem de Giz

Agora que acabaram as festividades e a necessidade de nos envolvermos no manto quente e confortável da companhia de familiares e amigos, chegou a altura de nos isolarmos na leitura de livros cujo negrume rivaliza com o dos dias de Inverno.   Eis que, como que seguindo a deixa, a Planeta decide começar 2018 com o lançamento de “O Homem de Giz”.  Recebi, na semana de Natal, uma cópia de avanço deste Thriller Psicológico que afirma, de uma forma que eu julguei algo arrogante, ser “o livro do ano 2018”.  Pfff!
 
 
No dia 24 de Dezembro comecei a leitura.

Dia 25, depois do almoço da praxe em casa dos pais, voltei à carga.

Dia 26 regressei ao trabalho com o meu exemplar (já bastante manuseado) dentro do saco para dele tirar proveito nas pausas de refeição.
 

 Entrei em 2018 com o livro do ano já lido! (um livro lido numa semana - o que, para uma mãe de dois filhos pequenos é um feito considerável!).
 
Sim, a afirmação pode ser arrogante, mas considerando o conhecimento que tenho dos clientes que frequentam a minha livraria, julgo que seja correcta.  A verdade é que, para grande parte da família leitora, o mistério de uma boa história policial ou thriller é motivo mais que suficiente para manter a luz do quarto acesa pelas horas nocturnas adentro, mesmo sabendo o quanto isso nos custará na manhã seguinte…  “O Homem do Giz” vai ser responsável por muitas olheiras em 2018!

A história, narrada na primeira pessoa por Eddie Adams, vai intercalando os acontecimentos da morte de uma jovem em 1986 com o ponto em que as testemunhas estão em 2016.  Eddie (ou Ed, como chamam agora ao homem de 42 anos) vai-nos guiando pela vida do seu grupo de 5 amigos com 12 anos de idade e, mais amargamente, pela forma como as vicissitudes da vida marcaram uma separação entre alguns membros do grupo e uma existência quase isolada para outros.  Na verdade, e apesar de ser um Thriller, há relativamente poucas mortes durante os relatos de Eddie…  O grafismo (excepto nos capítulos finais) é pouco.  O desconforto que sentimos, esse, é enorme!

Há algo de particularmente constrangedor, um mal-estar latente, sempre que uma história é contada pelos olhos de uma criança.  Uma criança que, com os amigos, encontra o corpo desmembrado de uma jovem no bosque junto à aldeia onde vive.  Uma criança que vive numa casa a cair aos pedaços com um pai jornalista e uma mãe que trabalha numa clínica de abortos.  Uma criança que fala, na primeira pessoa, de bullying.  Uma criança que vê um acidente numa feira de diversões e que salva a vida de uma jovem com a ajuda do novo professor da escola…  O “Homem de Giz” (assim apelidado pelas crianças pelo facto de ser albino).  Uma criança que vive as alterações da idade com intensidade.  Uma criança que, possivelmente, não é de confiança…
 
“O Homem de Giz” não é um livro com descrições macabras ou de violência extrema (excepto, talvez, no final).  Mas é um livro que nos mantém em suspense, desejosos do novo desenlace, da próxima peça do puzzle.  E o final...  Não desaponta!

A imprensa internacional não deixou passar o quanto “O Homem de Giz” faz lembrar o conto “O Corpo” de Stephen King Em "O Corpo", que viria a ser adaptado ao cinema com o título "Conta Comigo" e com River Phoenix no elenco, King conta-nos a história de quatro rapazes que se aventuram nos bosques em busca de um jovem desaparecido e de como a sua aventura acaba por se tornar um ritual de passagem da infância à idade adulta, e o início de perda da inocência.  E sim, há paralelos, mas eu, nestas coisas das comparações, sou sincera...  Acho sempre de extrema pressão para o comparado.  C. J. Tudor há-de, se este livro é prova de algo, formar nome por si própria no mundo do Thriller.  E vai ser bem sucedida.  Se precisava de começar este percurso sendo comparada com o Rei do Terror?  Não!  Apenas porque, à semelhança do que acontece comigo sempre que alguém é comparado à Agatha Christie, os fãs de Stephen King vão repudiar a comparação com um enérgico abanar de cabeça e revirar de olhos.  Simplesmente porque, autores como King ou Christie construíram o seu legado literário ao longo de anos e é humanamente impossível alguém conseguir atingir os seus níveis de qualidade numa primeira tentativa. 

Por isso peço, leiam este livro sem tentar retirar comparações, sem procurarem outro escritor nas páginas de "O Homem de Giz"...  Mas façam um favor a vós próprios:  leiam este livro!

(E pensar que tudo começou com um balde de paus de giz que alguém ofereceu à filha da autora como prenda do seu segundo aniversário...)
 
 
Nota 4

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

50 Sombras de Grey - o Filme


Estreia no dia dos Namorados, 2015

Dar a palavra aos humoristas










Gosto muito de ler biografias, mas, por norma, fico-me por membros da realeza ou autores que já não estão entre nós.  No entanto recentemente dei comigo a ler a autobiografia de 3 humoristas britânicos (é raro ver televisão portuguesa, pelo que tomo conhecimento de pessoas que, de outra forma, nunca ouviria falar).


1 - A primeira autobiografia é "Bonkers - my life in laughs" da Jennifer Saunders (isbn13: 9780241967263, format: Paperback, Penguin). 
Conhecida do público português pelas séries "French and Saunders" e "Absolutely Fabulous", era, mais que a obra, a mulher em si que me fascinava.  Sempre que a via sem ser a encarnar um "boneco" ficava fascinada com o que dizia e a maneira que demonstrava ser.  E, apesar de ela ser uma comediante, não estava à espera de rir ao ler este livro.  Mas a verdade é que, quando cheguei à parte em que ela transcreve a sua participação num filme francês (depois de ter mentido e afirmado que dominava a língua) fez-me rir até às lágrimas...  Ainda bem que estava sozinha em casa!

Nota 4



2 - "Life and laughing - My Story" de Michael MccIntyre (isbn13: 9780141045672,  format: Paperback, Michael Joseph)
Se não conhecem o humor de Michael McIntyre, desafio-os a pesquisá-lo no Youtube...  e a verem só um clip!  A primeira vez que o fiz (uma noite em que o sono teimava em não chegar) às 6h da manhã ainda estava a rir, feita parva, em frente ao ecrã do computador.  Mesmo nas entrevistas que dá, Michael McIntyre consegue sempre fazer-me rir (experimentem a ida dele ao Top Gear).  Decidi ler a sua autobiografia para conhecer um pouco mais do homem por trás da comédia.  Gostei do livro, que é uma janela aberta para a sua vida e para as dificuldades que teve de ultrapassar antes de atingir o sucesso.  Michael dá esperança a todos os sonhadores!

Nota 4



3 - "Is it Just Me?" de Miranda Hart (isbn13: 9781444734164, format: Paperback, by Hodder & Stoughton).
Miranda Hart é uma humorista que aposta no humor à antiga (físico e baseado na sua natural falta de jeito - para a qual o seu metro e oitenta ajuda bastante), para arrancar gargalhadas ao público.  Deu, também, mostras da sua capacidade mais dramática com o seu papel em "Call the Midwife".  O livro é escrito em formato de diálogo entre a Miranda do Presente e o seu "Eu" Passado...  A sua aprendizagem ao longo dos anos, a sua evolução e os seus conselhos...

Nota 3

segunda-feira, 26 de maio de 2014




ESTOU NUA, E AGORA?
de Francisco Salgueiro
 
ISBN 9789897411595
 
Quantas vezes acordamos com vontade de mudar de vida? Deixar para trás os mesmos lugares, as mesmas pessoas, a relação que não vai a lado nenhum?
 
 
Alex, uma nova-iorquina, vive uma vida perfeita: acabou o curso e tem um emprego garantido. Está prestes a cumprir os sonhos que desenharam para ela. Mas um desgosto de amor leva-a a viajar pelo mundo. Precisa de se conhecer melhor e ultrapassar os seus medos.
Da Tailândia ao Brasil, da Austrália a Marrocos, faz Couchsurfing dormindo em colchões, beliches, camas limpas, camas sujas, parques públicos – até em casa de Francisco Salgueiro dormiu , em Lisboa.
Nudismo, algum sexo, ilhas paradisíacas, jantares românticos, protestos de rua, festivais no deserto, um encontro com Nelson Mandela, mulheres que disparam bolas de ping pong das suas zonas íntimas – tudo isto faz parte desta história real passada nos sete continentes, ao longo de um ano, que representa tudo aquilo que gostaríamos de fazer.
Há pessoas que cometem erros por se acomodarem e outras que cometem erros por tentarem. A Alex preferiu errar tentando. E vocês?
Um convite aos adolescentes e jovens adultos a tomarem as rédeas da sua vida e a partirem à descoberta do mundo!




Sobre o autor
Francisco Salgueiro. Sócio da primeira empresa portuguesa de assessoria mediática e digital de celebridades, Naughty Boys. Fotógrafo premiado internacionalmente. Autor de doze livros publicados pela LeYa/Oficina do Livro, incluindo os bestsellers Homens Há Muitos e O Fim da Inocência.

O Dia a Dia na Livraria






Julgo que já aqui referi que, para além de bibliófila, sou Livreira de profissão (erro crasso...  ainda os livros não saíram do camião e já eu os estou a por de parte para comprar).  E se, por vezes, os clientes da livraria têm saídas que nos fazem (sor)rir, outras há que só nos apetece despir o uniforme e responder-lhes como merecem.  Felizmente, há situações em que conseguimos responder-lhes à letra sem ter de despir o colete...



Há uma senhora que vai frequentemente à loja e que tem a mania de "olhar de cima" para os funcionários. Um dia, estava eu a atendê-la, e ela sai-se com esta:

- Estou à procura de um livro da Jane Austen, em inglês, para a minha neta. Ela é uma menina de 12 anos, mas muito culta para a idade. Mas você não me pode ajudar, porque não percebe de clássicos... O pior é que não me lembro do título... Só que é a história de duas irmãs.

Ora, para além de ser de Línguas e Literaturas Modernas, sou também, como criança culta que fui, fã da Jane Austen desde a infância, tendo lido (e relido) todos os seus livros várias vezes... Claro que só podia responder de uma forma:

- Julgo que está à procura do Sensibilidade e Bom Senso, ou Sense and Sensibility, a história de Elianor e Marianne Dashwood e dos seus amores conturbados com Edward e Willoughby.

A senhora abre muito os olhos e comenta:

- Ah... Conhece?

Não... Pedi a ajuda do público!